The New Abnormal

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Ouça o novo disco:

"Well, that was long ago": 10 anos da primeira visita de Strokes ao Brasil

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Dia 21 de outubro de 2005, aconteceu o show de Strokes no Tim Music Festival. Lá se vão dez anos da primeira visita da banda ao nosso país… Por isso, resgatamos as memórias do show com uma matéria escrita por Lúcio Ribeiro para a revista Bizz daquele ano.
Confiram o setlist do show:
Hard to explain
Someday
Soma
Hawaii
The modern age
Automatic stop
You only live once
What ever happened?^
12:51
Razorblade
Barely legal
Alone, together
Heart in a cage
Under Control
Juicebox
The end has no end
Trying your lucky
Last nite
Take it or leave it
Reptilia
Is this it

New York City cops
I can’t win

“Junho de 2005

“Oi, aqui é Ryan Gentles, empresário dos Strokes. Não sei se você sabe, mas estamos aqui diante de propostas para a banda excursionar pelo Brasil e pela América do Sul. Você pode me ligar em Nova York ou responder a este e-mail quando você tiver um tempo?.”

Ligação retornada (caixa postal, recado na secretária) e email respondido. “Obrigado por responder. São tantas as ofertas que fica difícil saber qual a melhor para a banda aceitar. Não estamos falando de dinheiro não damos a mínima para dinheiro. Eu quero é fazer a melhor coisa para a banda, algo que não vá decepcionar os fãs que temos aí. Você já viu vários shows nossos, a banda conhece você. Então queríamos que você nos ajudasse a decidir o que é melhor para os Strokes. A gente não confia em palavra de gravadora. Eles têm os interesses deles.”

Outubro de 2005

“Boa-noite, meus irmãos brasileirooos!” Da frase em português do emocionado baterista Fabrizio Moretti, assim que acabou o show de São Paulo no TIM Festival, até a outra “Você precisa ouvir essa banda”, que veio em inglês de um emocionado amigo de Londres lá atrás, no comecinho de 2001, passaram-se pouco mais de quatro anos. Mas parece que já faz uns 20. Há 20 anos, o grupo nova-iorquino The Strokes, essa banda, deu uma sacudida tão forte no rock que voou grupos novos para todo lado. Grupos novos, revistas novas, lugares novos para sair, roupas novas.

Há 20 anos, o Brasil esperava por um show desse dinossáurico quinteto cuja média de idade é 25 e que finalmente visitou o país neste final de carreira, em 2005.

E é como se fizesse mesmo 20 anos. Porque hoje em dia, com a velocidade da informação potencializada a mil graças à internet, um grupo como o canadense Arcade Fire já é velho. Música nova vem agora de bandas como a americana Giant Drag que é nova até o mês que vem. E que, não será surpresa, vai estar no festival brasileiro do ano que vem também.

E, dessa era virtual que transformou o jeito de consumir música, e que criou a geração Napster, devoradora de MP3 tanto quanto de arroz e feijão, os Strokes são o primeiro grande fruto, pode-se dizer.

O grito de “Last Nite” que o vocalista Julian Casablancas deu em um bar sujo de Nova York no ano 2000 chamou a atenção de um produtor musical inglês que estava bebendo no lugar. O tal produtor, ao final da apresentaçãozinha tosca dos Strokes, chegou junto à banda e pediu uma demo tape. Logo, a demo estava em Londres, entregue pelo tal produtor a um tal amigo na gravadora Rough Trade. Logo, os Strokes embarcavam para a Inglaterra para lançar o single não para gravar o single. A Rough Trade decidiu não esperar para colocar a banda no estúdio. Usou a demo mesmo como um EP oficial. “The Modern Age” saiu em janeiro de 2001.

Do famoso show no festival do semanário New Musical Express, no mês seguinte, quando a febre Strokes começou, a uma capa do caderno Ilustrada da Folha de S.Paulo, levou pouco mais de dois meses. De repente, surgiu muito interesse nos Strokes. E isso dá medo. Mas ao mesmo tempo nos dá felicidade. “Não temos nada a perder!”, disse em 2001 o baterista Moretti, em entrevista por telefone de Nova York, quando a banda só tinha três músicas. O primeiro álbum completo, “Is This It”, ainda estava a oito meses de distância.

“É óbvio que não tenho do que reclamar. Mas eu perdi algumas coisas, sim. Pelo menos deixei de fazer coisas por ter sido tragado para uma vida em alta velocidade. Estes foram anos absurdos. Parece que eu vivi 20 anos em quatro”, disse em 2005 o mesmo Moretti, em entrevista em Nova York, durante sessões de audição para a imprensa do terceiro álbum dos Strokes, “First Impressions of Earth”.

A conversa agora aconteceu uma semana antes de a banda embarcar para o Brasil para uma turnê inédita de quatro apresentações essa que acabou de ocorrer. Exatamente um ano e duas semanas depois do último show do grupo, ainda pela turnê do segundo CD, “Room on Fire”, álbum tão bom e tão cheio de vivacidade quanto o primeiro, mas já sem a absurda carga de hype que praticamente vinha estampada na capa de “Is This It”. Mas, nesse papo recente em Nova York, com um disco novo já vazando pela internet e às portas dos concertos no Brasil, a palavra que estava presente no dia-a-dia da banda era uma só: tensão. “Cara, você não tem idéia do quanto estou nervoso com toda essa expectativa!”, confessa Moretti. Eu e o Julian conversamos todo dia sobre essa turnê pelo Brasil. Fabrizio Moretti é brasileiro. Quer dizer: meio brasileiro. O pai, diretor de uma multinacional, levou o garoto para Nova York aos 4 anos. E exatamente há quatro anos ele fala em vir tocar no Brasil. E há quatro anos o TIM Festival tenta trazer sua banda para o Brasil. Fabrizio tem avó, tia, pai, primos e irmão morando na cidade em que nasceu, Rio de Janeiro.

Nos quatro anos e tanto que os Strokes foram assuntos no rock, qualquer entrevista para jornalista brasileiro vinha com a promessa de que shows no país iriam ocorrer, sim. Mas o “agora vai” nunca aconteceu. “Essa burocracia estúpida de gravadora sempre nos impediu de tocar no Brasil. Uma vez, no começo de 2003, pensamos em tocar durante nossas férias, armar por nossa conta, alugar os instrumentos e tocar em lugares pequenos. Não deu certo porque o Albert não poderia ir. Seriam shows família”, revelou o baterista. Shows para a nossa família.

Agora, o “agora vai” foi. Os Strokes receberam em 2005 quatro convites oficiais para vir ao Brasil. TIM Festival, festival Claro Q É Rock, Curitiba Rock Festival e para uma turnê particular, provavelmente feito pelo grupo CIE. A opção final da banda pelo TIM Festival se deu 1) porque o evento quebraria seu padrão de exclusividade e permitiria que os Strokes tocassem em três lugares de importantes bases de fãs no Brasil; 2) para um público muito maior que os minguados 4 mil que os veriam no Rio antes de se confirmar o show extra e 3) por uma temporada carioca para a banda, que possibilitasse a Julian e Fabrizio uns dias perto dos parentes.

O ônibus de Julian

A banda desembarcou no Rio de Janeiro em 18 de outubro, três dias antes do primeiro dos shows no TIM Festival. De dia, os cinco Strokes ficavam 5 horas dentro de um estúdio de Jacarepaguá, ensaiando as músicas novas para os shows. À noite, jantavam na churrascaria Porcão e circulavam por bares do Rio, principalmente o Empório.

Fabrizio, quando não estava ensaiando, ou com a família, ou nos bares ou comendo empadinha de frango (“Cara, isso é melhor que toda a comida americana junta!”), passeava por Ipanema com a namorada, a pantera Drew Barrymore. “Ela é praticamente uma brasileira. Se sente à tão vontade com a minha família que às vezes eu penso que eles estão falando em português. Estivemos aqui há três anos, quando ela conheceu todo mundo. No dia que chegou, o Brasil tinha ganhado a Copa do Mundo e havia toda aquela festa na rua, gente alegre e bebendo. Ela disse: Acho que sei agora por que me apaixonei por você”. Fabrizio está falando ótimo português. “Sempre pratiquei português com a minha mãe, por telefone, ela no Brasil, eu em Nova York. Fabrizio, ouvi dizer que está frio em Nova York. Não esquece a jaqueta quando sair!”.

Julian, quando não estava ensaiando ou no Porcão ou em lugares como o Cristo Redentor, estava com os Casablancas. O vocalista dos Strokes pediu 40 ingressos da primeira noite do TIM e um lugar para estacionar um ônibus. Na platéia, a trupe de familiares e amigos brasileiros de Julian não parava de pular no show dos Strokes. Até os minúsculos Johnzinho e Fernando, meio-irmãos do cantor, subiam aos ombros para dançar. Faziam contraponto com a avó, de 72 anos, e a tia de Fabrizio, que comandavam a torcida do baterista, do outro lado.

Diferentemente do público e da imprensa, os Strokes não curtiram o primeiro show brasileiro, no Museu de Arte Moderna. Ou, pelo menos, gostaram bem mais do segundo, o do Armazém do Cais do Porto, incendiado por uma platéia em número igual, 4 mil pessoas, e com a média de idade bem mais perto da adolescência. “Ontem estávamos mais nervosos, travados, havia o pessoal da família. Não ia sair um show perfeito, mesmo. Mas serviu para nos confrontarmos com as músicas novas. Podemos dizer que na sexta elas deixaram de ser estranhas para nós. Deram-nos confiança de que o disco novo vai ser bom”, disse Julian Casablancas, no hotel, horas antes do show no Porto, no sábado.

Enquanto o disco novo todo começava a aparecer na internet, a banda mostrava em primeira mão aos brasileiros, ao vivo, as canções “Hawaii-Aloha”, “You Only Live Once”, “Razor Blade”, “Heart in a Cage” e “Juicebox.” “O que é essa Hawaii-Aloha que vocês tocaram?”, perguntei a Fabrizio no sábado, antes do show do Armazém. Ela não estava na audição do disco, em Nova York, duas semanas antes. “O que você achou? É uma música que nasceu de uma brincadeira e vamos usá-la como lado B de Juicebox. Vai se chamar ou Hawaii ou Aloha, não decidimos ainda”, respondeu.

A conversa agora era entre Julian e Fabrizio. “Você viu que tinha gente que sabia cantar Juicebox?”, perguntou o baterista. “O que me espantou mesmo foi ver uma menina cantar You Only Live Once com todas as palavras, respondeu Julian”, começando um raciocínio. “Eu nem sabia que essa música já tinha vazado. É por isso que eu não posso ficar contra a internet. A gente depende de uma garota assim como ela, que vai no computador dela buscar uma música nossa na internet e depois vai ao nosso show para cantar junto com a gente. Talvez não estivéssemos tocando aqui no Brasil se aquela menina não baixasse música na internet. Enquanto ela não baixar o ingresso pelo computador, tudo bem para mim”.

Durante o papo dos dois Strokes, o resto da banda chegava à suíte presidencial do hotel Caesar Park para uma entrevista para a MTV e uma sessão de fotos para a BIZZ. O guitarrista Albert Hammond Jr, filho do famoso compositor britânico, veio com um amigo. “Rapazes, tem alguém que quer conhecer vocês”. E eis que entra o senhor Elvis Costello. Todos os Strokes sentados se levantam rapidamente. E acontecem os apertos de mão e o elogio mútuo. Costello marca uma cerveja em Buenos Aires, onde o artista e a banda tocariam depois do Brasil, e sai tão rápido quanto entrou.

Encontros dos Strokes com a velha geração do rock não são tão freqüentes, segundo os caras da banda. Tidos como emuladores do protopunk de Nova York, enxertado com sangue-novo dos anos 2000, os Strokes se encontrariam nos palcos do TIM Festival com uma espécie de avôs da banda, o veterano grupo Television.

“Nunca fui de ouvir muito Television”, afirma Julian. Mas sei bem quem foi Tom Verlaine. “A primeira vez que eu me encontrei com ele foi agora, no aeroporto de Nova York ou no Brasil, não lembro. Me aproximei dele e disse: Oi. Ele respondeu, simpático: Oi. Acho que essa foi a relação de mais proximidade que pode ter havido em Strokes e Television”. Assim Casablancas explicou os paralelos do velho e do novo rock.

Gripa?! Whatever…

Já estava chegando a hora do show do Cais do Porto, que ficou marcado como a melhor apresentação da banda no Brasil e também o que arrebentou a enferrujada garganta de Casablancas. Somada a uma gripe dos trópicos, Julian chegou baleado e reclamão ao palco do Anhembi, no domingo, no show paulistano da banda. E, ao microfone, soltou uma desculpa pelas escorregadas na voz que rendeu uma cena engraçada: “Estou com gripa”, disse ele.

“Você acha que as pessoas perceberam que minha voz estava ruim?”, quis saber, dois dias depois, durante o vôo para Porto Alegre, derradeiro destino da banda no Brasil. Respondi que, bem, não conhecia uma pessoa que não tivesse gostado de ver os Strokes em São Paulo. E que, se por um lado a voz estava prejudicada, ele tinha contado com um backing vocal gigantesco.

“E a história do gripa?”, aproveitei para zoar. “Ah, whatever… Perguntei para alguém da produção como se falava quando a pessoa está fazendo atchim. Entendi que era gripa. Essa é uma palavra que existe em português?”, indagou o vocalista, com um cachecol enrolado no pescoço, preocupado com a gafe internacional. “Não mesmo; gripa em português, eu desconheço”. “Melhor assim ” aliviou-se. “Poderia ser algum palavrão, de repente. Como, por exemplo, diarréia. Eu poderia estar dizendo ali no palco: Desculpem pela minha voz, mas é que estou com diarréia. Vai saber…”

Na própria terça-feira, um pouco antes do embarque para Porto Alegre, e uma vez que os Strokes são tão amiguinhos da internet e de quem baixa nela suas músicas, mostrei a Fabrizio, no iPod, que a garotada brasileira não brinca em serviço: “Escuta isso. Uma faixa do show de vocês no Rio, Hawaii-Aloha. Ontem já tinha umas cinco páginas de fãs brasileiros dos Strokes com faixas ao vivo e os vídeos extraídos da MTV”.

“Você está brincando! Deixa eu ouvir… (ouvindo)… (ouvindo e batendo as mãos no ar como se estivesse na bateria)… Ficou bom, hein? Dá para adiantar até a parte em que eu solo? Albert, ouve isso!”, convidou Fabrizio. Albert ouviu, achou normal. Fabrizio estava mais entusiasmado. “Posso ouvir mais uma vez?”

Eu sempre penso que o avião pode cair quando estou nele. Talvez seja por causa do seriado “Lost”. “Nunca penso isso. Acho que ele nunca cairia comigo dentro, porque ainda tenho muito a fazer, viaja Fabrizio”. Assim que o avião pousou na capital gaúcha, o que Fabrizio e os outros Strokes teriam a fazer era tentar escapar da recepção beatlemaníaca que os esperava no saguão do Aeroporto.

Aguardava a banda nova-iorquina um exército de fãs compostos de 90% de garotinhas Capricho e 10% de meninos-clones de Strokes. Depois de alguns minutos conversando com a segurança particular deles, que já estudava uma saída estratégica, a banda resolveu encarar. Os guitarristas Albert e Nick Valensi e o baixista Nikolai Fraiture passam ilesos. Mas o vocalista galã e o brasileiro pararam no bloqueio feminino.

Horas mais tarde, essas meninas, multiplicadas por milhares, eram as mesmas que obrigaram a segurança também a se multiplicar quando o grupo subiu ao palco, para segurar a grade que separava o público do palco. O fosso dos fotógrafos tinha mais seguranças que câmeras.

Os Strokes chegaram ao Pavilhão (um antigo hangar ao lado do Aeroporto Internacional Salgado Filho, que agora serve a raves e a shows de rock), por volta das 22 horas. Todos, menos Julian, que ficou repousando no hotel por causa da gripa e só chegaria em cima da hora de a banda entrar em cena.

Fabrizio, Nick e Nikolai assistiram, na parte lateral do palco, à apresentação toda dos canadenses do Arcade Fire. “Acho que é a sexta vez que vejo o show deles. Nada no rock me bota tão para cima quanto um concerto do Arcade Fire”, elogiou Fabrizio. Pouco antes de os canadenses fecharem sua passagem brasileira em pandemônio, os Strokes são avisados do horário e se trancam na tenda-camarim, montada à beira da rampa do palco. Julian chega de van, já vestido com o casaco estilo militar, em companhia de Ryan Gentles e de um segurança. Pára para dar um autógrafo a um dos integrantes do Acústicos & Valvulados, atração gaúcha que abriu a noite, e entra para a concentração.

Enquanto isso, no palco, o Arcade Fire estava terminando sua apresentação quando, na última música,” Rebellion (Lies)”, um dos integrantes subiu com um bumbo numa das altas armações laterais do Pavilhão. E ficou tocando longe da banda, por cima do público, bem longe do palco. Até que uns guris da platéia escalaram a parede também e ficaram dançando com o canadense no estreito corredor que ligava os pilares de sustentação do galpão. Enquanto o músico não descia, o resto do Arcade Fire ficou segurando a música só nos Uhhhhhhhs e Ohhhhhhhs vocais, na espera do retorno. O show canadense acabou em alta temperatura.

Assim que limparam o palco para a montagem do aparato sonoro dos Strokes, a temperatura tinha subido ainda mais. A gritaria quando qualquer roadie com aparência stroke surgia no palco era impressionante. Ondas humanas balançavam o público no pelotão da frente. E, nesse período, por duas vezes, Fabrizio saiu da tenda para fumar. “É inacreditável como essa vibe ainda contagia. Minhas pernas até tremem!”, entregou, visivelmente nervoso demais para quem já tocou nos principais festivais europeus, americanos e japoneses.

Aconteceram dois shows dos Strokes em Porto Alegre. Um que só a banda viu, caótico, dando tudo errado, cheio de incidentes. E outro que o público conferiu: insano, intenso, cheio de energia. A cada final de canção, Julian corria até a bateria e tomava um copo de uísque… cheio de chá. Até a hora em que parei de contar, no meio do show, foram uns dez. Ele engolia e segurava a garganta, como se estivesse com dor. Fabrizio espancava e olhava para o cara da mesa de som, como se pedisse ajuda. Nick Valensi passou o tempo todo amaldiçoando a guitarra, até jogá-la para trás do palco, espatifando-a em duas. O que para a banda era um problema, para o público tinha cara de atitude rock’n’roll.

O programado, pela lista de músicas, era o show acabar na quarta música do bis, “I Can’t Win”, mas Julian deu o sinal de que não agüentava. Foram três. Os Strokes saíram do palco depois de “Reptilia”, a grande explosão popular da noite, mais até que “Last Nite”, que teve uma roupagem algo diferente no vocal e no andamento da bateria, em relação à conhecida versão do disco.

O show acabou. Julian saiu tonto, com a mão na garganta. Fabrizio quase caiu ao descer da bateria. O comportado Albert jogou a guitarra no chão. Nick espatifou sua segunda guitarra e chutou seu décimo cavalete, desceu à platéia e entregou seu instrumento para uns meninos no gargarejo, para que fosse destruído em segundos. A banda desceu a rampa do palco, entrou na van que e desapareceu ainda enquanto a galera aplaudia, talvez sonhando com mais um bis que não veio.

Nem 2 horas depois da confusão, os Strokes e os Arcade Fire bebiam caipirinha tranqüilos, uma atrás da outra, no bar do hotel Sheraton, em Porto Alegre. “Uma banda gosta da outra e já chegamos a tocar nos mesmos lugares, mas esta é a primeira vez que nos reunimos para nos conhecer”, festeja o baixista Nikolai Fraiture, enquanto Fabrizio usa seu jeitinho brasileiro para arrastar os canadenses para uma balada. Logo, alguns Strokes e meio Arcade Fire eram pegos cantando Boooooooooorn to Be Wiiiiiiiiiild, no Ocidente, bebendo cerveja brasileira.

“Hoje à noite deu tudo errado, não? Foi nosso pior show no Brasil…”, lamentou o baterista. Expliquei minha teoria da confusão rock’n’roll,

que muitas vezes encanta o público. Ele riu, tipo concordando. Quase seis da manhã de quarta, 26, um sonado Fabrizio Moretti é devolvido pela van da BIZZ de volta ao hotel. Abre a porta do seu quarto e encontra no chão um papel com a programação futura dos Strokes. Manhã e tarde de folga, depois viagem para Buenos Aires. A aventura beatlemaníaca dos Strokes no Brasil, quando ele acordasse, iria acabar.

Fonte: arquivo Abril