The New Abnormal

The New Abnormal

Ouça o novo disco:

TRADUÇÃO DA REVISTA ROCK & FOLK


Demorou, mas como prometido, postamos uma tradução da reportagem da revista francesa Rock & Folk. Clique em mais e leia!

Revista Rock & Folk – edição de abril de 2011
Por: Danny Boy

Congelando em Nova York. Zero graus. Nem um mais, nem um a menos. Cabeça baixa, caminhamos pelas calçadas cobertas de Manhattan.
Em direção a Bowery, a lendária Rua do East Side. Não há muito tempo, drogados e alcoólatras de todos os tipos assombravam o lugar. Hoje, o estilista Jonh Varvatos e seus sapatos de 800 dólares ocupam o lugar do extinto CBGB.
Os hotéis despedaçados onde se escondiam junkies agora são palácios freqüentados por uma juventude nova-iorquina sedenta de sucesso.
É em um desses hotéis que encontramos Nick Valensi, guitarrista dos Strokes. Sentado a uma mesa, com as longas pernas cruzadas, ele nos recebe, com um copo de Ricard na mão.
“Minha bebida preferida”, diz ele com um largo sorriso. O mais jovem do grupo é francês por parte de mãe. “Em Bordeaux, meu avô que tem 88 anos é um fã dos Strokes. Ele está muito orgulhoso de mim. Ele não para de me aconselhar: ‘Se você faz rock, tem que se mexer em cena. E ter backing vocals. E uma sessão de metais (instrumentos de sopro).’[Risos] Você imagina os Strokes com tudo isso?”
Os Strokes estão de volta. E com eles, muitas questões, muitos rumores e muitas boas canções. Não há tempo a perder. Os fãs querem saber o que aconteceu. E para compreender os Strokes, é preciso voltar às origens.
Nick Valensi: em 1994, nós tínhamos um grupo com Julian (Casablancas, vocalista) e Fab (Moretti, bateria). Nos trabalhávamos muito. Quando Nikolai (Fraiture, baixo) se juntou a nós em 1997, sentimos que estávamos no caminho certo. E depois, em 1998, quando Albert (Hammond Jr, guitarra) veio de Los Angeles, estávamos no ponto. Quando nos apresentamos nos primeiros shows ao vivo, éramos muito melhores que a maior parte dos grupos locais. No nosso primeiro show, tinha apenas quatro ou cinco pessoas. Na próxima vez, eram dez ou quinze, e depois trinta. Foi rápido. Nós trabalhamos duro. Mas, uma vez que nos apresentamos, foi rápido.

ROCK&FOLK: Vocês foram tratados como filhos de famílias ricas.

Nick Valensi: Honestamente, nenhum de nós tinha dinheiro. Ninguém nos ajudou financeiramente. Talvez no começo, os pais de Albert tenham ajudado a pagar o aluguel. Mas é tudo. Nikolai e eu crescemos pobres. Minha mãe sempre foi dura. É uma idéia falsa. E há também grande parte de ciúmes… Em 2000, Geoff Travis (Rough Trade Records) assinou com a gente. Ele ouviu nossas demos pelo telefone e disse que queria fazer 30000 exemplares! Aí começou o hype. A capa da NME, uma turnê pela Inglaterra com todos os ingressos vendidos. Era o começo da loucura. Na época, não tínhamos ferramentas necessárias para encarar. Nunca entendemos bem porque nos deram a etiqueta de salvadores do rock n’roll. Eu entendo a excitação, mas chegar a dizer que éramos salvadores…

A cláusula sagrada

O resto pertence hoje à história do rock n’roll. Is This It, o primeiro álbum dos Strokes, é um monumento do rock que influencia toda uma geração. Foi rapidamente seguido por Room on Fire, que se aproxima muito de seu irmão mais velho. As turnês em ritmo desenfreado impostas pela gravadora quase acabaram com a banda. Para não se perder, os Strokes tiveram que se questionar e recomeçar. Para o difícil terceiro álbum, foi necessário fazer algo forte e rápido. Demitir o produtor Gordon Raphael e chamar David Kahne, peso pesado de Los Angeles que trabalhara com Paul McCartney. O som alto, canções cada vez melhores, mas o álbum ficou muito longo. A recepção foi glacial, as vendas decepcionantes, mas os shows continuaram lotados.

Nick Valensi: Nunca ganhamos tanto dinheiro quanto na turnê de First Impressions of Earth. Durante as gravações, Albert tentou nos fazer ouvir alguns de seus projetos solo. Acho que ele se desapontou com nossa reação e não voltou a falar nisso. Nikolai guardou seu segredo. Para a Little Joy, eu estava com Fab em Los Angeles desde a concepção do álbum. Toquei bateria pra eles.

R&F: Quem teve a idéia de reunir o grupo?

Nick Valensi: Eu. Há anos que tentava reunir os Strokes. Antes de ¿Cómo Te Llama? (segundo álbum solo de Albert), eu vim a Nova York. Tivemos uma reunião importante. “Tenho músicas que gostaria de tocar com vocês, temos que tocar juntos de novo.” Albert recusou. Ele queria lançar seu disco. Foi frustrante. Todos estavam prontos. Até mesmo Julian. Mas Albert disse “Caras, eu amo vocês, quero continuar os Strokes, mas tenho que fazer esse disco.” Acho que isso deixou Julian muito bravo. A situação estava muito desconfortável. Havia tensões estranhas. Foi um hiato muito esquisito. Fizemos uma pausa de quatro ou cinco anos, mas, durante todos esses anos, nos reencontramos várias vezes para trabalhar nas músicas novas. Todos os cinco. Escrevi muito e queria muito, pedia que os outros me ajudassem em minhas composições. E, quando estávamos prontos pra continuar, de repente Julian nos disse que ia lançar seu álbum solo. Ele manteve segredo e esperou que estivesse terminado para nos contar. Tínhamos 16 ou 17 músicas e Julian quis sair em turnê. Ele nos disse: “Caras, enquanto isso, vão para o estúdio e registrem tudo.” Dissemos: “Ok, é exatamente o que vamos fazer”.

R&F: Difícil trabalhar sem Julian?

Nick Valensi: Não foi fácil, mas, foi uma nova experiência. Foi um pouco como alguns grupos nos quais o cantor é só… o cantor. Imagine Van Halen gravando sem David Lee Roth, e depois David Lee Roth vai e faz sua parte. É um pouco como isso. Mas tudo funcionou. Foi muito criativo pra mim. E sabe o que mais? fazer esse disco sem Julian foi muito divertido  e fizemos um grande disco. É como um novo capítulo pros Strokes.

R&F: Não é estranho para um grupo ter tantas sessões sem cantor?

Nick Valensi: Sim, é estranho, mas senti uma liberdade que nunca tinha tido antes. Foi genial. Uma das razões pelas quais eu não quis fazer meu disco solo, era que mesmo se eu pudesse escrever e cantar minhas próprias canções, haveriam essas questões: “As canções seriam melhores se Julian as cantasse? Se Fab estivesse na bateria? Se eu tivesse os Strokes comigo?” A resposta seria sempre “Sim”. As canções seriam mil vezes melhores. É por isso que eu não quis fazer meu disco. É verdade. Tenho orgulho do grupo. Trabalhamos realmente duro. Eu amo tocar com eles. É como uma família

R&F: Uma família disfuncional…
Nick Valensi: Sim, disfuncional. E como quando saímos de férias com a família, talvez odiemos o irmão, não queremos ver o tio alcoólatra, mas, uma vez que a família se reúne, há aquela energia, aquele amor, esse sentimento que não encontramos em nenhum outro lugar. É assim com os Strokes. Quando estamos juntos, os cinco, é esse sentimento de estar completo, é único, realmente especial.

R&F: Um membro dos Strokes pode ser substituído?

Nick Valensi: Isso nunca vai acontecer. Está em nosso contrato: se um membro do grupo se for, o grupo não existe mais. É uma cláusula sagrada. Somos ligados a ela.

R&F: Houveram condições para a volta de Julian?

Nick Valensi: Condições? Por quê? Somos como irmãos. Somos irmãos, cara! Passamos seis meses juntos escrevendo 16 ou 17 canções. Julian ama os Strokes tanto quanto qualquer outro membro. Não sei o que as pessoas pensam. Desejamos que o grupo permaneça.

R&F: Que aconteceu com Joe Chicarelli?

Nick Valensi: Tivemos problemas com os produtores. Quando registramos 14 canções com ele, o álbum estava pronto. E quando o ouvimos, não estávamos convencidos.

R&F: Angles é bem curto: dez canções, 35 minutos. Vocês queriam reencontrar a eficiência de Is This It?

Nick Valensi: Não queríamos refazer First Impressions… Estávamos convencidos de que era muito longo. 14 músicas, isso arruína um álbum.

R&F: Como aconteceu a seleção?

Nick Valensi: Se Julian não gosta de uma canção, é certo que ele não vai cantá-la. E tudo se passou por e-mail. Ele nunca veio ao estúdio [risos]. Foi estranho, mas funcionou. O disco é bom. Foi frustrante, mas ao mesmo tempo… “Bom, ele não quer cantar essa? Ok, vamos tentar fazer uma melhor. Dois refrões no lugar de um, mudamos o ritmo da bateria.” Nós trabalhamos muito. E isso tudo não teria acontecido se Julian estivesse no estúdio. Como uma carta branca para a criação.

R&F: Taken for a Fool é um título bem eletro-dance. Bem ao estilo Moroder.

Nick Valensi: Eu escrevi Taken for a Fool. Não há sintetizadores. Em contrapartida, Games tem muito. Eu a compus com Julian. De fato, não encontrávamos a guitarra certa para essa faixa. Eu tentei alguns sintetizadores e mais tarde, Albert jogou fora todas as guitarras e guardou meus sintetizadores. Eles adoraram. Menos eu. Eu não queria sintetizadores num disco dos Strokes! Achava que era loucura. Mas eles me convenceram. “Vamos tentar esse Yamaha, coloque esse Juno! E Moog! E o Mellotron!” Agora como vamos fazer isso ao vivo? Play-backs, loops? Essas merdas? Odeio essa idéia.

R&F: Vocês se dão conta que alguns de seus fãs vão odiar essa parte dos sintetizadores?

Nick Valensi: Não se pode agradar todo mundo. Sempre amei o ritmo divertido de Last Nite, Someday e Under Cover of Darkness, mas temos que amadurecer também. É impossível agradar a todos os fãs. Meu barômetro são os outros membros do grupo. Pensamos dessa maneira desde o primeiro disco.

R&F: E é difícil ter dois guitarristas num grupo?

Nick Valensi: Não há rivalidade, mas nem sempre é fácil. Eu faço todos os solos de Angles. Temos o hábito de dividir, mas Albert não quis mais fazer o mesmo nesse disco.

R&F: Arrependimentos?

Nick Valensi: Eu comi sushi essa manhã. Me arrependo…
R&F: De Last Nite a Under Cover of Darkness, você poderia resumir o percurso em uma palavra
Nick Valensi: Sobrevivência!

R&F: Pensávamos mais em montanha-russa…

Nick Valensi: Oh, sim. É melhor. Esqueça sobrevivência, vamos manter montanha-russa!

R&F: Ainda, por Is This It, vocês demitiram Gil Norton (Pixies) pra trabalhar com Gordon Raphael. Para Room on Fire, tiraram Nigel Godrich (Radiohead) para retomar com Raphael, e para First Impressions of Earth tiraram Raphael para colocar David Kahne. Não queria estar no lugar do seu próximo produtor…

Nick Valensi [risadas]: Realmente tivemos um sucesso melhor com a produção de Joe (Chicarelli). Mais reproduções no rádio, sem dúvida. Podíamos manter certas coisas. Fomos à casa de Albert, em Nova York, e trabalhamos novamente nas canções de Joe. Guardamos uma e trabalhamos de novo parcialmente em outras duas. Ele não aceitou bem nossa decisão, mas entendeu. É que somos difíceis de satisfazer.
R&F: Julian faz a publicidade dos perfumes Azzaro…

Nick Valensi: Sim, eu sei. Certamente, eu não teria feito as mesmas escolhas. Quer dizer, tenho certeza que ele vai morar num apartamento melhor que o meu [risos]. E também vai mandar seus filhos a uma escola melhor.

Albert Hammond Jr
Há alguns meses, Julian Casablancas disse à Rock & Folk: “não quero mais ser o emissário, o cara mau.” É claro que ele foi acusado de todos os problemas dos Strokes. Hoje se faz uma luz sobre a longa pausa do grupo. E parece que o vocalista não é o único responsável pelos tormentos.
Encontramos Albert nos escritórios da WizKid Management, no coração do East Village. Ryan Gentles, empresário do grupo, um garoto em pessoa, em seu computador, ocupado com a organização de um concerto dos Strokes em Las Vegas e com sua aparição na TV, no programa Saturday Night Live. Atrás, Albert, cabeludo, barba de cinco dias e camiseta AC/DC.

ROCK&FOLK: Albert, conte pra gente sobre sua incursão solo…

Albert Hammond Jr: Tinha começado a trabalhar em Yours to Keep no final das gravações de First Impressions of Earth e continuei a trabalhar cada vez que voltávamos de turnê. Tempos estranhos. Só minha batalha pessoal. Eu me lembro, foi sem dúvida por causa das drogas, ter ficado com raiva e não me comunicar. De fato, luta-se consigo mesmo, não se fala a ninguém e a gente culpa os outros.

R&F: Que batalha pessoal?

Albert Hammond Jr: A alegria das drogas e os rancores estranhos. Quando comecei, foi cocaína. Eu tinha 23, 24 anos. Em seguida, tomava pílulas de ópio e antes das gravações de Yours to Keep, estava usando heroína. Você mistura isso com o resto…você não se dá conta.

R&F: Depois do último show dos Strokes, você saiu em turnê própria…

Albert Hammond Jr: Em nove meses, devo ter feito 120 shows. Só hoje eu sinto o cansaço. O uso excessivo de drogas… Estou limpo há pouco mais de um ano e meio. Acho que não significa muito em comparação com o tempo pelo qual me droguei. Quando chegamos ao fundo, um ano e meio parece uma eternidade.

R&F: Em 2008, você lançou ¿Cómo Te Llama?, seu segundo disco mesmo com os Strokes prontos pra se reunir.

Albert Hammond Jr: Estávamos trabalhando juntos, mas eu não estava pronto. Eu não me sentia mais realmente um membro do grupo.

R&F: Você pensou em deixar o grupo?

Albert Hammond Jr: É um pensamento que vem sempre ao espírito. Deixar o grupo ou ser mandado embora. Muita insegurança. “Me mande embora, eu não sou bom o bastante.” A gente sempre pensa algo assim. Mas o positivo nisso tudo, é que estamos reunidos e tivemos discussões intensas. Cada um disse o que tinha a dizer. A partir desse momento, nós todos precisávamos desse tempo. Depois, me lembro que por volta do verão, eu disse que devíamos voltar ao trabalho, mas não sabia que Julian queria lançar seu álbum solo. E ele tinha todo o direito… Resumindo, de janeiro a agosto de 2009, estávamos os trabalhando juntos. Incluindo Julian. Fui pra reabilitação em setembro, Julian lançou seu disco e eu saí em dezembro. E desde janeiro de 2010, fomos gravar com Joe. Todos os quatro. Sem Julian, porque ele estava em turnê. Ele foi muito claro sobre o fato de que não poderia dar opinião sobre nada que não fosse concreto. Dessa forma, ele se retirava do processo criativo, nós podíamos estabelecer um tipo de comunicação entre nós quatro. Nosso objetivo era trabalhar juntos. Tudo aquilo deu muita força ao grupo. O mais engraçado, é que sua ausência nos tornou mais fortes.

R&F: Quando você tocou o fundo do poço?

Albert Hammond Jr: Logo antes de gravar Angles, em 2010. Eu tive problemas pessoais. Rompi com minha namorada, tive uma recaída e quando terminamos as canções, eu estava destruído. Foi louco. O que é positivo é que nesse momento da sua vida, é preciso fazer uma escolha. E eu escolhi sair dessa. Três meses mais tarde, estava com Chicarelli em estúdio. Meu corpo ainda estava dolorido.

R&F: Como foram as coisas com Joe?

Albert Hammond Jr: Não muito bem. É por isso que não continuamos com ele. Porque não estava bom. E depois, nos demos conta de que nós cinco juntos, coletivamente, poderíamos alcançar nosso objetivo. Sempre tivemos o sonho de encontrar George Martin um dia. Cada vez que encontramos um produtor, são apenas brigas malignas. Que é mais uma experiência onerosa.

R&F: Esse rumor da rejeição do disco pelas pessoas do RCA tem fundamento?

Albert Hammond Jr: Absolutamente não. Está no nosso contrato, eles não podem rejeitá-lo. Grosso modo, apresentamos as canções, e eles não podem dizer não. A rejeição veio de nós mesmos. Não gostamos dele.

R&F: O novo single Under Cover of Darkness é 100% puro Strokes…

Albert Hammond Jr: É realmente divertido que 2/4 seja o som dos Strokes. Strokes clássicos. Quando toco pros meus amigos, eles ficam felizes, sorriem. É a vocação dos Strokes: fazer as pessoas felizes. É a volta da alegria [risos].
Para Saturday Night Live tocamos “Under cover of Darkness” e Life is simple in the Moonlight”. É bom ter esse contraste entre as músicas. Uma muito popular e uma introspectiva. – Albert Hammond Jr

SNL é sempre divertido. No final do programa, temos sempre um grande jantar com os atores, convidados e toda equipe de transmissão. – Ryan Gentles
Tradução: Nice
Revisão: Tata