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Human Sadness

Dia 27 de maio de 2015 foi o dia de estreia do vídeo de Human Sadness na internet. O clipe – mais um curta, visto que tem 13 minutos e muito mais cenas do que se esperaria de um vídeo de música – foi dirigido por Warren Fu e Nicholas Goosen. Foram várias exibições em cinemas dos Estados Unidos, algumas delas tiveram ainda a presença da banda Julian Casablancas + The Voidz e dos diretores do filme, que participaram de uma sessão de perguntas e respostas.

A entrevista abaixo foi concedida a John Norris (Vice) por Warren Fu, que já trabalhou com os Strokes e com Julian anteriormente, em que o diretor fala sobre a concepção e execução do trabalho, comenta como é trabalhar com Julian e suas impressões sobre alguns aspectos do vídeo.

Los Angeles, Q&A

O vídeo de Human Sadness é um novo e arrebatador curta de 13 minutos que oferece, finalmente, um acompanhamento visual para Tyranny, a estreia selvagem de Julian Casablancas + The Voidz, lançado no último setembro. ‘Seja grande ou vá pra casa’ parece ser o guia principal de Casablancas ao criar a faixa multifacetada e impressionista, cuja abordagem foi claramente levada para o clipe, codirigido por Nicholaus Goosen e o colaborador de longa data Warren Fu, que dirigiu vídeos para os Strokes e para Instant Crush, de Daft Punk, que apresentam Casablancas.

Há muita coisa acontecendo aqui. A bandeira dos EUA voa sobre um ferro velho e está estampada em um bumbo, enquanto a América conduz seu arsenal militar – drones, bombas B-2, helicópteros, mísseis, e abundantes opções nucleares. Mas ao lado dessas representações de dor estão as mais pessoais, que caracterizam cada um dos membros da Voidz: um homem cruza a rua à noite, solitário e entediado; o outro está em um motel com meninas e notas de dinheiro; um jovem casal briga ferozmente na frente de seu filho; um soldado cai, dizendo a seu amigo para salvar a si mesmo; um funcionário de uma loja de conveniência – interpretado por Casablancas – atravessa outra noite em um trabalho sem saída; e mais afetuosamente, o baterista Alex Carapetis tem uma breve, mas poderosa performance de um cara no limite. Estas são pessoas melancólicas e desesperadas em tempos distópicos. Se tudo isso soa como uma grande chatice, o impacto total é algo mais emocionante do que deprimente, orientado pela noção de seguir em frente.

Em notas sobre o conceito de vídeo fornecidas por Casablancas, ele explica que a parte da performance do vídeo, em que The Voidz toca em uma sala branca com áudio ao vivo, ao contrário de tocar a versão do álbum, veio da ideia da ‘banda tocando’ durante o naufrágio do Titanic. “Em alguma data vaga no futuro, tudo está indo para o inferno”, diz ele, “e nós apenas decidimos tocar em nosso espaço de ensaio moderno-retrô como se tudo estivesse desmoronando atrás de nós.”

Tal como acontece com grande parte do trabalho de Casablancas, o vídeo traça uma linha entre o simples e o surreal, o sincero e o irônico. E, sem entregar a reviravolta no final do vídeo, mantenha um olho sobre os óculos brancos, que Casablancas diz que foram inspirados pela capa do clássico de 1982 de Laurie Anderson, Big Science.

O vídeo tem sido sido esperado há um longo tempo. Fu gravou as primeiras cenas em fevereiro de 2014, e por uma série de paradas e começos, sessões de edição na estrada, mixagem de música e inúmeros ajustes visuais, nós finalmente temos um dos vídeos mais grandiosos de música que já foi feito em um selo indie com orçamento apertado (Casablancas financiou). “Human Sadness” teve seu lançamento na semana passada com uma série de exibições em cinemas em toda a América do Norte, e para sua estréia hoje na VICE, falamos com o codiretor Warren Fu sobre o ambicioso trabalho.

Los Angeles Q&A (1)

Vice: Não é todo dia que vídeos de música são exibidos em cinemas. Mas então, não é um vídeo habitual. Como foram as exibições?

Warren Fu: Foram ótimas. A segunda que tivemos em LA foi muito mais forte. Apenas porque, você sabe, é uma gravação ao vivo, e tem tantos tons. O baixo era tão alto na primeira exibição que você não podia realmente ouvir a frequência mais alta tão bem. Então basicamente aumentamos os vocais e as frequências médias, para balancear um pouco para a segunda exibição, e foi muito melhor na segunda. As pessoas estavam aplaudindo o tempo todo.

Em uma entrevista em novembro, Julian disse que o vídeo de Human Sadness estava quase pronto. Estava pronto há algum tempo?

Sim, foi um tipo de desafio em termos de programação. Ele estava em turnê, você sabe – há um monte de mudanças nas peças em termos de mixagem de som e ajustes, e então não era o momento certo para lançar, e então eles estavam em turnê de novo, parecia um momento melhor agora. E houve um monte de momentos ‘vai, não vai’, quando pensamos que estava quase pronto e ele meio que sentou por um tempo e estava “Ah, você sabe, poderíamos ajustar isso” e havia coisas que me incomodaram também depois e eu decidi mudar. Porque há muitas cenas diferentes. Você sabe, eu faço um monte de vídeos de música sob o sistema padrão de selo comissionado e é sempre uma filmagem de um dia, e você termina. Mas esse era tão diferente, obviamente, porque é um selo indie, e Julian financiou, totalmente independente. Não há um administrador envolvido ou nada disso. Então ele podia investir seu tempo nisso.

Quando você começou a se envolver, e como você e Nicholaus Goosen acabaram dividindo as funções de direção?

Nick é um amigo de Beardo, o guitarrista. Então foi assim que ele se envolveu. E basicamente era um pouco esmagador no começo, porque eu fui a primeira pessoa envolvida. Eu fiz vários vídeos com Julian, mais dos vídeos de seus álbuns anteriores. E eu já tinha feito três teasers e editado os teasers para o álbum, então eu estava naquele ponto em que tinha feito tanto para a banda que era um pouco demais pensar em fazer esse vídeo louco de 13 minutos com múltiplas cenas que eu sabia que precisaria dividir o trabalho. Aí ele poderia focar em algumas de suas cenas e eu poderia realmente focar em outras. Então eu gravei a parte do carro, com Amir e Beardo primeiro. Era fevereiro de 2014, um ano atrás. E apenas deixamos assim. Foi uma daquelas coisas, acho que a banda estava indo para Nova Iorque. E Julian disse “Oh. Vamos gravar rapidamente a cena do carro”. E nós gravamos tudo com 200 dólares. Tudo foi gravado muito eficientemente.

O vídeo foi todo roteirizado desde o início?

Não, veja, é um processo muito orgânico trabalhar com Julian. E começaria com alguns e-mails dele que foram um pouco enigmáticos e difíceis de entender. Ele só iria me enviar algumas fotos de salas brancas estranhas. E ele disse: “Isto é uma idéia que Jake [Bercovici] teve, o baixista. Estamos em alguma estranha sala do futuro que poderia ser como um bunker, mas poderia ser como um estranho programa de TV turco dos anos 1970” E então outra coisa que ele disse foi, “Jake continua falando sobre uma cena de guerra, você sabe, um clichê tipo salve a si mesmo, vá-sem-mim.”

O baterista, Alex Carapetis, está realmente incrível como o cara bêbado que é expulso de um bar e realmente só se perde.

Sim, com isso, Alex não tinha uma história ainda. Então eu meio que mencionei o final de The Outsiders, onde o personagem de Matt Dillon tem uma espécie de colapso. E eu estava, “Essa parte da canção soa como um tropeço bêbado para mim.” E então eu mostrei a Alex, e sua cena em particular. Eu gosto de como saiu, porque Alex realmente canalizou algo.

Foi muito poderoso.

E era real -Vi lágrimas. Quero dizer que foi Nick Goosen e sua equipe que filmou, mas eu estava lá ao longo de um monte de cenas, apenas uma espécie de segundo diretor ou ajudando a supervisionar as coisas. Mas as cenas de Alex foram todas tão brilhantes. Ele definitivamente canalizou alguns demônios internos.

E quando dizemos histórias, em alguns casos, são realmente apenas momentos, vinhetas com esses personagens.

Sim, Julian preferiu deixá-los vagos e para que fossem mais como sentimentos … Julian meio que queria montar essa linha em que algumas peças são mais claras que outras. Foi mais como uma coisa pictórica, você está apenas criando condições e emoções. A mesma coisa com o fim do mundo. Você sabe que há as tempestades e inundações enquanto Amir Yaghmai está tocando. Mas, mais tarde, Julian estava como, “Também coloque um meteoro gigante voando.” E eu, “Sério?” Ele, “Sim.” Ele só queria um fim do mundo genérico, para mantê-lo vago e não ser uma coisa particular. Só que tudo vai à merda.

Enquanto a maioria do vídeo é muito sincero, há solo de Amir que parece aliviar o clima, e outros elementos que parecem um pouco mais irônicos. Que na verdade é algo que você pode dizer sobre a Voidz em geral. Desde que a banda surgiu pela primeira vez eu acho que tem havido especulação sobre quanto do projeto foi a forma irônica de Julian assumir um gênero ou uma era.

Eu acho que a estética de Julian meio que guia toda a linha. Ele sempre gosta de dizer que ele não gosta que as coisas sejam levadas muito a sério … Quando eu dirigi “Instant Crush” para Daft Punk [com Julian], tivemos um tipo de desacordo algumas vezes durante as filmagens, onde eu pensei que era uma música muito emocional. Então eu fiz uma ” Twilight Zone*” sobre esses manequins que se apaixonam. E ele continuava querendo jogar piadas, meio que não levar tão a sério. E então teríamos essas discordâncias, onde ele estava, “Essa é a diferença entre você e eu. Você leva esses manequins sério e eu não.”

[nota da equipe: Twilight zone foi um programa que serviu como referência]

Na matéria de Kim Taylor Bennett sobre Julian para a Noisey, ele disse que esperava que as pessoas fossem capazes de distinguir as letras no álbum.

É realmente difícil às vezes.

É. E em um ponto no vídeo, na verdade você digita o texto de algumas letras, “ Is it not true, the things that we did…” Há alguma razão para destacarem essas palavras?

Julian sempre se referiu a isso como a cena “do alien soberano”. E é por isso que a fonte é vermelha e meio assustadora, e é quase como uma lavagem cerebral acontecendo naquele momento. O sentimento geral naquela parte da música, acho que ele sempre viu isso como algo muito sinistro, apenas a lavagem cerebral das pessoas. E ele mencionou: “Talvez seja um texto vermelho, talvez seja algum estranho tipo de letra alien ou algo assim.” E eu coloquei, e ele ficou tão animado. Ele estava, “Oh, cara, é tão poderosamente estranho quando o texto começa a aparecer e a voz muda.” Mas houve um monte de tentativa e erro com este vídeo.

É bastante diferente de outros vídeos de música que você tem feito? Foi mais desafiador?

Sim, sim. É definitivamente o tempo mais longo que eu já trabalhei em um vídeo, e o mais vagamente estruturado em termos de não haver uma grande gravadora. Tivemos de usar apenas basicamente os recursos que podíamos. E foi tanto tempo. Eu voaria para a turnê para editar com ele no ônibus às vezes. E então nós chegaríamo ao ponto em que ele dizia, “Estamos quase terminando”, e então nós olhávamos novamente e era como, “Não, não estamos realmente lá ainda.” Foi um processo, porque não é uma música fácil, temática e visualmente. Ele estava sempre tentando encontrar esse lugar que não era muito óbvio e mais aberto à interpretação.

Fonte: Vice
Tradução: Equipe TSBR