The New Abnormal

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ENTREVISTA DO TIME OUT NEW YORK TRADUZIDA

Entrevista publicada originalmente em inglês no site newyork.timeout.com por Hank Shteamer em 28 de março de 2011. Agradecemos a Isabelle Munhós por oferecer a tradução!

Entrevista: Nikolai Fraiture do The Strokes

Até agora você provavelmente leu que o quarto álbum dos Strokes, Angles, foi gravado de forma fragmentada devido a um atrito dentro da banda. Isso é apenas a metade da história:  O produto final é bem interessante, oferecendo provas de que o quinteto local têm ido muito além da chique garagem que marcaram seus primeiros esforços. Confira nossa resenha do disco e leia uma entrevista com o baixista dos Strokes, Nikolai Fraiture.
“…Com a internet e com o afluxo de tanta música, eu penso que as pessoas são tão rápidas  em julgar. As pessoas se tornaram muito irreverentes quanto à aceitação da música.”
Onde vocês estão?
Em Las Vegas.
O que está havendo por ai?
Estamos fazendo um show.
Eu ouvi dizer que o processo de gravação do novo álbum foi fragmentado, com os membros fazendo suas contribuições separadamente. Como você se sente quanto à essa maneira de trabalhar?
Bem, eu acho que foi um pouco diferente. Nós gastamos muito tempo escrevendo o álbum juntos, trabalhando em idéias e desenhando coisas. Eu acho que as pessoas focam demais no fato de que o Julian não estava muito presente na gravação, mas foi apenas por um período de tempo. Foi um processo diferente do que nós estávamos adaptados.
Essa foi a primeira vez que outros integrantes contribuíram em composições?
Sim, eu acho – essa foi a primeira vez significativa. Existem algumas coisas aqui e ali, mas isso essa é a primeira situação extremamente colaborativa.
Como isso funcionou? Alguém trouxe uma demo e outros elementos? Ou vocês colocaram as músicas em conjunto de forma colaborativa?
Nós sempre tivemos uma forma de cooperar com as composições do Julian. Há muito tempo atrás, ele trazia as melodias e riffs de guitarra e nós construíamos em torno disso. Nós ainda usamos esse formato. Todo mundo tem um processo diferente. Alguém pode trazer uma pequena parte ou uma demo real ou uma música intreira. Durante o período de composição, quando nós estávamos todos juntos,  foi quando nós escolhemos o que íamos trabalhar e o que não íamos.
Há músicas no CD que têm um som eletrônico com o uso de baterias eletrônicas e coisas assim.  Seriam essas tocadas, originalmente, com toda banda com uma pegada mais rock?
Há uma música que é bastante eletrônica e foi originada sendo uma música de rock. E então, pouco a pouco, ela[música] se tornou no que se tornou. É um longo processo. As coisas mudam. As coisas desaparecem e reaparecem. Você corta isso e tira aquilo. É realmente um longo processo. Não existe uma hora que alguém diz: “Vamos fazer uma música eletrônica ou uma música de rock.” Conforme o tempo passa, com a sensação do álbum, outras músicas e como as coisas funcionam juntas lentamente se tornam o que são.
Eu quero falar de “Under Cover of Darkness”, que eu acho uma ótima música. No que diz respeito à complexa orquestração da guitarra e do baixo: É o tipo de coisa que estaria lá na música original ou que sai durante a gravação?
A maioria está lá. Nós tipo que cortamos muitas coisas. Há também a harmonia de guitarras – que surgiram sendo tocadas no estúdio e tentando coisas diferentes em cada parte. É um mix de tudo. É um processo de tentar de tudo antes de eliminar algo.
Como um músico, você gosta destes pequenos detalhes e isso floresce na sua música?
Definitivamente. É incrível como é difícil fazer algo soar simples. Nós cortamos muitas coisas e estamos tentando apresentar algo realmente legal e um pouco complicado de uma forma boa.
Há um ótimo intervalo instrumental estendido em “Two Kinds of Happiness”. Você já se sentiu como se estivesse forçando o formato de música pop de três ou quatro minutos, com partes como esta? Você sempre quis experimentar, assim, uma música de dez minutos e levá-la o mais longe que podia ir?
Até agora, não temos experiência com as longas músicas de dez minutos. Não é algo que nós temos pensado ainda. Pode acontecer. Mas nós tocamos pop-rock. Isso é o que gosto de fazer. Isso é o que tem sido bastante bom para nós até agora. Parece tão humilde para os críticos e os fãs, mas essas coisas são geralmente uma mudança muito grande. Pode acontecer. Mas provavelmente vai levar tempo.
Têm artistas que você admira que estão fora do formato pop-rock?
Definitivamente. Eu cresci ouvindo muito Pink Floyd. Pink Floyd é uma banda que fez isso melhor, eu acho.
Você usou a palavra ‘humilde’.  Você acha que as pessoas subvalorizam o trabalho que é envolvido na composição dessas músicas concisas?
Eu acho que sim. Especialmente com a internet e o influxo de música, eu acho que as pessoas são tão rápidas para julgar. Elas se tornaram muito irreverentes sobre a recepção de uma música. Nós sempre gastamos muito tempo trabalhando na nossa música. Às vezes isso aparece de forma simples, e algumas pessoas podem não gostar. Mas é difícil gastar cada vez mais tempo tentando agradar essas pessoas.
Nos dias e na idade de hoje você está empenhado em fazer álbuns completos? É ainda uma forma de arte é válida?
Eu acho que é. Eu gosto de fazer isso. Com os cinco lá, surgem muitas idéias. É um processo agradável. Uma vez que está pronto e terminado, é uma sensação boa [terminar um álbum]. Mas é uma nova época e a atenção das pessoas é pequena. Há pessoas que ainda escutam álbuns inteiros, mas isso meio que foi transformado em algo diferente.
A banda está vindo de um longo hiato. Como vocês decidiram quando seria a hora de recomeçar a fazer música? Quem tomou essa decisão?
Eu acho que em algum momento todos da banda tomaram, mas em alguns desses momentos alguém ainda não estava pronto. Depois de três anos, nós voltamos ao estúdio e começamos a compor e a avançar para terminar o álbum, apesar de começarmos e pararmos muitas vezes. No começo foi Fabrizio e Nick, nosso baterista e guitarrista, e eu no estúdio, então Julian veio em algum momento. Eventualmente, percebemos depois a quantidade de tempo que todos nós tivemos que enfrentar sobre a decisão de saber se isso iria continuar ou não. E depois de muito tempo, você meio que começa uma reunião de banda e nós não queríamos uma reunião de banda.
Você gosta de ter esse tempo por fora[da banda]?
Eu estava esperando voltar mais cedo, mas eu acho que todos nós precisávamos de tempo para descansar, nos recuperar e encontramos a nós mesmos como pessoas e músicos novamente. Eu conheço Julian desde a primeira série, e nós encontramos os outros membros quando éramos adolescentes. Estamos vivendo em cima uns dos outros por muitos anos. Nesse ponto, por uma questão de longevidade, nós meio que precisávamos fazer uma pausa e explorar caminhos diferentes.
Os projetos solo são saudáveis válvulas de segurança para a banda?
Falando por mim, contanto que o Strokes seja a prioridade, essa é a idéia principal. Eu acho que uma vez que a ‘linha é borrada’ é quando a comunicação é interrompida e as coisas ficam estranhas e você não sabe como agir ou como falar e isso é prejudicial para a banda. Mas se você tem uma saída de material[da banda para o projeto solo], isso é bom. Isso é o que meu projeto foi: foi uma saída para a música que não era a música dos Strokes. Então, eu guardei isso para mim. Não ia ser em um álbum dos Strokes. Enquanto que a linha era clara. Eu sei que o Strokes é uma prioridade e eu sei que tipo de música que eu escrevo por isso.
Como é pra você ir de um projeto solo para tocar em locais grandes com os Strokes novamente?
Em termos da banda, musicalmente, isso não foi muito difícil. O maior desafio foi a readaptação de todas as nossas mudanças como indivíduos, e nós estamos trabalhando pra chegar num ponto ideal.
Pode elaborar? Você disse que conhece Julian desde a primeira série. Como tem sido estar nesta jornada com ele e como isso afetou o relacionamento de vocês?
Sim, é incrível. Eu tenho orgulho de ter compartilhado isso uma vez na vida com alguém e com outros amigos com quem eu cresci. Seja a banda ou qualquer coisa na vida, você cresce, tem uma familia e você muda. Isso é ótimo. Isso se torna mais emocionante e mais interessante ao longo do tempo. Como qualquer coisa na vida que muda, você tem que se adaptar, e às vezes é difícil.
Vocês irão tocar no Madison Square Garden. Vocês sentem a diferença de um show como este?
Colocando desta maneira, é um pouco cansativo, mas nós estamos muito agradecidos. Eu estou super animado. Nós não queremos dar um show à platéia em um lugar pequeno, então estamos tentando pensar em maneiras de tornar qualquer lugar apto para esta situação, e estamos realmente muito empolgados em tocar no Madison Square Garden.
Quais são algumas das maneiras que vocês podem tocar essa música racionalizada e ampliar a apresentação para uma platéia pequena?
Temos mais álbuns agora, por isso temos mais tempo para tocar. Não é que nem dia dos Beatles no Shea Stadium, onde eles tocaram por 20 minutos e saírão do palco. E nós também queremos mostrar nosso talento, estamos trabalhando nisso.
Você e Fab trabalham juntos apenas uma seção de ritmo em conjunto para aperfeiçoar o sentimento da música?
Sim, absolutamente. É engraçado, nunca ninguém perguntou isso. Nós gastamos muito tempo, normalmente antes dos ensaios. Nós passamos o tempo apenas para trabalhar nas músicas juntos. Em seguida, as guitarras de Nick e Albert entram, e vamos trabalhar em cima das melodias com eles. Então, finalmente, Julian vem e vamos trabalhar em cima de uma set list ou de duas.
Como é tocar com um baterista que é tão comprometido com o tempo e sente oposição à preenchimentos[na música]?
Absolutamente, quando a gente trava juntos, a música é que dá a força propulsora que temos trabalhado tanto. É quando as guitarras pode realmente ficar um pouco atrás ou na frente, e Julian pode ter a liberdade de fazer o que quiser quando tocamos ao vivo, com Fab e eu nos ajeitando o máximo que conseguirmos.
Você tem algum estilo de ritmo favorito?
The Wailers sempre teve um ritmo incrível. Um monte de bandas … Led Zeppelin tinha uma ritmo bastante potente.
Trabalhando em seus projetos solo, vocês ainda expoem suas idéias uns ao outros?
No início nós meio que fizemos por conta própria, apenas para sentir como se pudéssemos fazer, e esse foi um momento muito estranho. Mas agora a vibe da banda é muito mais aberta. É mais fácil dizer “Ei, eu estou trabalhando nisso, você quer ver?”. Outro dia Fab me escreveu “Ei, na próxima vez que você fizer uma música nova, eu adoraria ser o seu baterista.” Eu acho que agora tudo está dito e feito, todos estão muito mais receptivos ao material do outro.
Você acha que vocês irão[gravar] para o próximo disco de uma maneira diferente?
Sim, eu acho que agora muitos fundamentos foram estabelecidos. Está muito menos confuso quanto ao que está acontecendo, o objetivo é muito mais claro. Nós queremos fazer música juntos, e se você quer uma música no álbum, você tem que trazer e trabalhar na música de todos.
Onde está o lar dos Stokes?
A maioria de nós está em Nova York. Nosso guitarrista, Nick, mora em Los Angeles, mas nosso lar é Nova York. Se não estamos trabalhando em nada, Nick vai embora de Nova York[e volta pra L.A].  Temos que reservar tempo pra compor, ensaiar, gravar e todas as outras coisas mais que temos que fazer.
Quando você fala sobre essas mudanças e da maneira de se relacionar uns com os outros, me parece que é uma grande proeza que uma banda de cinco pessoas é capaz de ficar junta por até quatro álbuns. Você acha que se um membro saísse, vocês não seriam mais a mesma banda?
Sim, sempre sentimos isso dessa maneira. Eu acho que esse é o motivo de demorarmos tanto tempo pra nos reunirmos. Toda vez havia um membro ausente, e foi difícil pra nós trabalharmos com a música. Esse foi o motivo de todo o processo demorar tanto tempo. Se não fosse nós cinco, simplesmente não pareceria certo.
Você tem planos para dar continuidade ao seu projeto solo?
Na época, era uma espécie de preencher o tempo e tentar ficar em cima de mim musicalmente e explorar coisas diferentes. Agora, para mim, o Strokes é a prioridade número um. Eu sempre trabalho com esse tipo de música para me divertir. Eu tenho material, mas o Strokes é a prioridade.
Você correu a maratona no ano passado. Está planejando correr de novo?
Sim, definitivamente. A maratona foi um desafio incrível. É algo que se torna viciante. Você quer bater seu tempo cada vez que você corre. Isso foi durante nosso hiato. O treinador me manteve numa conduta rigorosa e me manteve saudável.
Eu quero perguntar sobre a Time Out New York – pergunta relacionada. Eu li que Steve Ralbovsky, que tem uma mão de peso na assinatura de vocês [com a gravadora], aprendeu sobre a banda através de um artigo nessa revista[Time Out New York].
Sim, eu lembro que a Time Out usou uma foto nossa na piscina. Quando nós estávamos começando em Nova York era tipo, qualquer coisinha nós ficávamos super animados. E quando a Time Out, que é claro, é uma publicação respeitada, levantou expectativa sobre nós, foi realmente muito emocionante.
Vocês se mantêm informados sobre a banda através da imprensa?
Você se mantêm no início, que geralmente começa a te divulgar. Infelizmente, as coisas mais antigas não são como nós nos sentimos agora. Todos estão muito empolgados e felizes em fazer isso e em estar na banda. Agora, eu tento não ler isso em um primeiro momento. Soa estranho, você gostaria de não ter dito certas coisas, e tudo fica muito confuso. Eu só estou tentando focar na banda e na música e não nessas coisas.
Vocês se juntam e poem um pensamento apresentado frente à imprensa?
Não é calculado assim. Nós tivemos muita falta de comunicação por muito tempo. Muitas coisas você conclui através da imprensa. Você concluiria que um membro da banda se sente daquele jeito através de uma história sensacionalista, e é muito complicado bloquear isso e não pensar sobre.  Assim, antes do álbum sair, nós entendemos muito mais do que isso. A maneira como estamos agora é muito mais comunicativa e nós falamos muito sobre isso. Tentamos estar todos na mesma página e não usar a imprensa como um molde.
Traduzido por Isabelle Munhós